por Davi Moura
Depois do extenso grupo dos “C” (CPA-10/20, CEA, CGA, CNPI e CFA), citado no último texto, ainda existem certificações – nacionais e internacionais – bastante interessantes. Além disso, quando olhamos o crescimento futuro do mercado de capitais e da indústria de fundos de investimento, é possível dizer que muitas certificações, que parecem bastante específicas hoje, irão se popularizar e que novas provas serão inventadas e/ou totalmente remodeladas.
Diretamente ligada ao aquecimento e popularização do mercado de investimentos, a mais comentada certificação é a da ANCORD, a qual qualifica o profissional para ser Agente Autônomo de Investimento (AAI). O AAI trabalha, “basicamente", na captação de clientes para uma corretora (são “representantes” da corretora) e na distribuição dos melhores produtos de investimento (fundos, renda fixa, previdência...) de acordo com o perfil do comprador, recebendo uma taxa acordada por esses serviços. Vale dizer que a certificação é necessária para a profissão, devendo o aprovado se credenciar à Comissão de Valores Imobiliários (CVM) e depois associar-se a um escritório de agentes autônomos ou a uma corretora em até um ano.
Outra distinção importante diz respeito ao código de ética da ANCORD sobre análise e tomada de decisão de investimentos, que menciona que o profissional não pode tomar as decisões de investimento pelo cliente, nem recomendar investimentos (atribuições dos analistas CNPI ou CFA), podendo apenas auxiliar na tomada de decisão.
O conteúdo da prova aborda temas ligados a investimentos, relacionados a: noções de economia sobre o Sistema Financeiro Nacional (SFN), conceitos relacionados a risco nos mercados de renda fixa e renda variável, tributação dos produtos de investimento disponíveis e o conhecimento sobre o aspecto regulatório da CVM. Ainda de acordo com a CVM, o número desses profissionais certificados subiu 17% apenas no ano de 2018, chegando a 7.745 pessoas que atendem a um mercado cada vez maior de clientes finais, isto é, há muita oportunidade de carreira.
Uma certificação pouco conhecida é o Programa de Qualificação Operacional (PQO). Diferentemente das outras, ela é oferecida pela Bolsa do Brasil, a B3. O objetivo é criar um ecossistema de boa operacionalização da B3. Isto é, como nós, os investidores comuns, não fazemos contato direto com o sistema da B3, esse contato é intermediado por agentes, como as corretoras. Dessa forma, é preciso que os profissionais dessas instituições sejam capazes de proceder corretamente em diferentes situações. Em suma, é o requisito para atuar legalmente nos mercados gerenciados pela B3. Em relação à prova, não é necessário ter formação prévia. Entre os assuntos cobrados, é preciso um entendimento sobre o sistema financeiro internacional, tributação, renda fixa e renda variável, além do conhecimento de matemática financeira. Além disso, são vários tipos de prova, relacionados às áreas de risco, backoffice, comercial, entre outras.
Partindo para o hall de certificações reconhecidas internacionalmente, além do já mencionado CFA, existem o CFP, o FRM e o CAIA.
O CFP (Certified Financial Planner) é um certificado que abrange tanto o mercado bancário quanto o mercado de capitais, ou seja, o profissional pode atuar em muitas frentes, mas a principal diz respeito aos serviços de consultoria. O indivíduo certificado pode estruturar tanto questões ligadas ao orçamento familiar, quanto investimentos e planejamento sucessório. Pela elevada gama de serviços, esse profissional é bastante requisitado nos segmentos de private dos bancos. Em suma, ele é o planejador financeiro pessoal.
Além disso, não se engane, o certificado é reconhecido globalmente, mas cada país possui tópicos de prova específicos e para prestar o exame é necessário comprovar 3 anos de experiência prévia no mercado financeiro e ter curso superior. Em relação aos assuntos cobrados, há ênfase em: planejamento financeiro e ética, planejamento de aposentadoria, gestão de riscos e seguros e gestão de investimentos. Por fim, vale frisar que a CVM não requer licença para aprovar o trabalho de um planejador financeiro, portanto a certificação é obtida de forma voluntária.
Já o FRM (Financial Risk Manager) certifica o profissional para fazer o gerenciamento de risco financeiro (agrega o risco operacional, o de crédito, o de mercado e o de liquidez) na instituição em que atua. Com novos e complicados produtos (derivativos, futuros…) sendo desenvolvidos no mercado, é importante que as instituições coloquem bastante atenção em suas áreas de risco, nas quais o profissional entra como gestor. Entre as atribuições do perito, temos: planejar operações de trading, estruturar procedimentos para cada processo, desenvolvimento de relatórios de risco e mais.
Em relação à prova, é necessário passar por 2 níveis, somando 180 questões de múltipla escolha, sobre os temas: gestão e modelos de risco, análise quantitativa, gestão de investimentos e atualidades em mercados financeiros. Por fim, o FRM exige comprovação de mais 2 anos de trabalho integral em finanças para completar a certificação.
O CAIA (Chartered Alternative Investment Analyst), por sua vez, é o certificado que indica uma especialização em investimentos alternativos, ou seja, produtos não necessariamente ligados ao mercado secundário, que são reunidos nas seguintes classes: Real Estate (setor imobiliário), Private Equity, Commodities, Hedge Funds e Managed Futures. Mesmo sendo menos conhecida no Brasil, essa certificação carrega bastante credibilidade, principalmente no exterior. Em relação à prova, ela possui 2 níveis, somando 300 questões de múltipla escolha (ouch!) e 3 questões dissertativas. O tamanho dá uma dimensão da quantidade de assuntos, os quais, além das classes citadas acima, reúnem: ética profissional, produtos estruturados, manejo do risco, manejo do portfólio e asset allocation. A diferença para o conhecido CFA consiste, basicamente, no foco em outras opções que não ações, ou seja, apesar do direcionamento diferente, há uma complementaridade.
Portanto, é difícil não olhar para certificações quando se observa a competitividade do mercado atual. Muito embora a experiência seja o fundamental, a evolução da carreira passa por essa fase de conquista de conhecimentos técnicos e, ainda, algumas posições de destaque que prescindem de uma certificação.
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