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Psicologia e o mercado de ações: a influência das emoções nas decisões de investimentos

por Maria Luise Brey


Quem nunca comprou um produto no impulso só porque estava com desconto? Isso é mais comum de acontecer do que você imagina. Assim como em todas as áreas da nossa vida, as emoções também podem interferir em nossas decisões na hora de investir - seja naquela blusinha da promoção ou na ação da vez. Nesses casos, nosso pensamento intuitivo entra em jogo e nos faz tomar decisões rápidas e momentâneas, sem pensar no futuro, algo que é feito principalmente em situações de riscos.


Para muitos, o conhecimento técnico de análise e a experiência são os únicos que devem ser acionados durante decisões de investimento. Pois muito se enganam, já que sem uma compreensão de suas emoções e da própria irracionalidade, muitos investidores acabam optando por más decisões sem perceber.


Devido a esses comportamentos insensatos do investidor, houve a junção da economia e da psicologia que deu fruto as finanças comportamentais, que segundo Regis Garcia e Paulo Arnaldo Olak, “busca identificar e entender a relação entre a irracionalidade e as decisões, partindo do pressuposto que na hora de investir, uma parte da decisão tem um forte componente humano ou emocional.”


Para Benjamin Graham, o maior inimigo de um investidor é ele mesmo, porque a sua autoconfiança e humor podem fechar seus olhos para possíveis riscos. Graham escreveu uma parábola para explicar a dinâmica do mercado de ações, criando um personagem fictício que o represente, chamado Sr. Mercado, que é emocionalmente instável.


Na parábola, o Sr. Mercado vende suas ações de acordo com seu humor: se está feliz, ele cota um preço muito alto por elas; se está triste, ele as cota muito baixo. Com isso, Graham nos alerta que “se o Sr. Mercado entra em cena num estado de espírito tolo, você tem toda a liberdade de ignorá-lo ou se aproveitar dele, mas será um desastre se cair sob sua influência.”. Assim, é necessário entender como ele age, para que você possa se proteger. Mas além disso, é preciso conhecer o seu lado psicológico para não cair na armadilha e acabar se tornando mais uma vítima do Sr. Mercado.




Fonte: Kal, Buy and Sell Cartoon, The Economist.


Essa imagem consegue exemplificar muito bem o comportamento de manada que, muitas vezes, acontece no mercado. Nela, os ruídos de comunicação acabam criando incertezas e comportamentos impulsivos, que, como dito anteriormente, são acionados em momentos de risco e euforia. Um exemplo atual desse comportamento foi a queda da Bolsa de Valores no início da pandemia do Covid-19 no Brasil, que ficou abaixo dos 100 pontos, devido a saída dos investidores que estavam com extremas incertezas do cenário brasileiro. O que se espera de um bom investidor nessas horas é que se mantenha calmo e racional, para analisar a situação sem deixar que as emoções e incertezas alheias o atinjam.


Todas as nossas emoções podem nos ajudar a alavancar ou não, e uma em especial que é subestimada pelos investidores é a confiança, que em excesso, pode fazer com que decisões ilógicas sejam tomadas. Como citado no livro “O jeito Warren Buffett de investir”,


os investidores “são propensos a superestimar suas habilidades e seus conhecimentos. De modo típico, confiam em informações que confirmam aquilo em que acreditam e desconsideram as que os contradizem. [...] Assim, acreditam que enxergam o que os outros não veem, tomando decisões rápidas baseadas em raciocínios superficiais.”

Outra reação que o excesso de confiança pode causar é o viés de reação exagerada, que se baseia na premissa de que pessoas têm reações exageradas perante a más notícias, enquanto para boas, reagem de forma lenta. Para o economista comportamental, Richard Thaler, esse comportamento exagerado pode ser visto como uma espécie de miopia nos investidores, que não enxergam com nitidez o futuro quando vem à tona uma notícia ruim de curto prazo, o que afeta e muito o mercado de ações.


Por um lado, a internet e o celular auxiliaram no acesso rápido a informações da bolsa de valores a qualquer momento do dia, possibilitando que os investidores ficassem sempre atualizados sobre o desempenho de suas ações. Mas, por outro lado, eles também aumentaram o viés de reação exagerada, visto que as notícias chegam com muito mais facilidade e rapidez para o investidor, fazendo com que aumente a chance dele tomar decisões precipitadas diante uma notícia contrária ao esperado.


Exemplificando o viés de reação exagerada, podemos tomar como base a ação BBAS3 (Banco do Brasil), que vinha se valorizando no começo do ano. Supondo que o investidor Roberto tenha notado essa valorização, ele resolveu comprar uma cota da BBAS3 no dia 02 de março pagando R$45,86 achando que ela subiria nos próximos dias. Mas, com uma turbulência no mercado, no dia 24 do mesmo mês, ela teve uma queda e passou a valer R$23,80. Então, Roberto se deparou com uma desvalorização e automaticamente assimilou que estava perdendo dinheiro, e sem raciocinar muito, vendeu sua cota. Se ele não tivesse agido por impulso no calor das emoções, poderia ver que hoje a ação se valorizou mais de 30%.


Agora chegamos ao ponto pelo qual todo investidor já passou: a aversão a perdas. Essa aversão nos acompanha desde crianças, quando por exemplo, perdemos aquele brinquedo que gostávamos para um irmão mais novo e, agora na fase adulta, essa perda resulta em patamares mais elevados e caros, como os nossos investimentos. Mas então, é certo falar que todos nós reagimos à perda da mesma forma?


Para Kahneman e Tversky, psicólogos que criaram a teoria da perspectiva - que analisa as decisões humanas diante do risco -, as pessoas julgam as perdas e ganhos de formas individuais e distintas, e lamentam a perda muito mais do que comemoram os ganhos. Assim, os psicólogos chegaram à conclusão de que independente do grau, as pessoas têm em comum a dor e a aversão a perdas. E passando essa emoção para o mercado de ações, o investidor pode acabar se prejudicando, como por exemplo, ao ver sua ação entrar em desvalorização e tomar a decisão irracional de vendê-la imediatamente na hora da baixa. Além do prejuízo, o investidor ainda sofrerá duas vezes mais por essa perda do que ficará feliz por ganhar dinheiro com a escolha de uma boa ação.


Seguindo a mesma linha de pensamento sobre perda e ganho, Richard Thaler e Shlomo Bernatzi disseram que “quanto mais tempo um investidor mantém um ativo, mais atraente ele se torna, mas somente se o investimento não for avaliado frequentemente.”, isso porque a análise diária de desempenho de suas ações pode te afetar emocionalmente, visto que você está mais exposto às oscilações do mercado. “Em outras palavras, os dois fatores que contribuem para a turbulência emocional do investidor são a aversão a perdas e uma alta frequência de avaliação de desempenho.”


Pode-se perceber então, que não é de hoje que há uma discussão sobre o quanto e como as emoções impactam nas decisões financeiras. E apesar de tê-las apontado como impulsivas, é possível estudá-las e, através do autoconhecimento, identificar quais te afetam mais. Assim, com estudo e prática, o investidor conseguirá controlar melhor suas emoções diante de cenários adversos e evitar que elas influenciem negativamente em seus investimentos.



 


Disclaimer: reforçamos que todo o conteúdo da Impactus UFRJ é feito apenas sob propósito didático, não sendo nossa intenção fazer qualquer orientação ou recomendação sobre qualquer tipo de investimento.


Referências


GARCIA, R.; OLAK, P. A. Controladoria comportamental: constatação empírica de tendências de mudanças no paradigma decisorial quantitativo. In: CONGRESSO USP CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 7., 2007, São Paulo. Anais eletrônicos... São Paulo: USP , 2007. Disponível em: <Disponível em: https://congressousp.fipecafi.org/anais/artigos72007/404.pdf >. Acesso em: 03 fev. 2020.

HAGSTROM, R. G. O jeito Warren Buffett de investir: os segredos do maior investidor do mundo. São Paulo: Saraiva, 2008.

LAGIOIA, U. C. T.; MACIEL, C. V.; RODRIGUES, R. N.; SILVA, R. F. M. Finanças Comportamentais: um estudo comparativo utilizando a teoria dos prospectos com os alunos de graduação do curso de ciências contábeis < Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-48922009000400383#B13 > Acesso em: 03 fev. 2020.



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