Já com relação às quedas catastróficas no Ibovespa, vamos aos dados. Segundo o Goldman Sachs, a bolsa brasileira foi a mais atingida do mundo, com perda de 52% ante os níveis de janeiro. Até o dia 18/03 a B3 havia registrado 6 Circuit Breakers, igualando o número de CBs durante a crise de 2008. Eles aparecem principalmente quando a alta volatilidade dos mercados força os fundos a desmontarem posições para que sejam respeitadas as métricas de risco.
Isso também aparece no câmbio, em que a moeda brasileira foi a 4ª de pior desempenho (desvalorização) no período. Apesar da busca por segurança, há um consenso no exagero do movimento que acontece no Brasil.
Quanto às razões para essa queda forte, destaca-se primeiramente a aversão global ao risco, na qual os movimentos se dão no sentido da retirada de dólares dos emergentes na busca por segurança, esse fluxo tomou grandes proporções à medida que aumentaram as chances de recessão global. Segundamente, a recente “guerra do petróleo”, em que os desacordos entre sauditas e russos provocaram forte queda no preço do barril, criando uma tensão global e uma possível queda da arrecadação via royalties por aqui. Terceiramente, como não havia de faltar, as recentes tensões entre o governo e legislativo, com aprovações de novos gastos diante de um orçamento, na época, apertado.
Como contraparte a crise, os governos têm que agir, conjuntamente com os BCs, provendo liquidez ao sistema. As medidas foram sendo tomadas a partir do dia 17/03, quando foi anunciado, em caráter emergencial, um pacote de injeção de R$ 143,7 bilhões na economia para os próximos 3 meses. Em relação às medidas, todas se concentraram no adiamento do recolhimento de impostos pelo governo (regime simples, Sistema S e FGTS). No dia 18/03 houve, já de forma pressionada pelas recentes decisões do FED, a reunião do Copom, na qual a taxa Selic foi cortada em 50bps, estabelecida agora em 3,75% a.a., como forma de baratear o crédito. Em 19/03, dessa vez focando no trabalhador informal, que encontrava-se ainda desamparado, houve nova rodada de medidas do governo, que propôs R$ 200 por mês para os trabalhadores informais, por três meses, reforço às linhas de crédito via Banco do Brasil, flexibilização temporária das leis trabalhistas, parcelamento das dívidas tributárias e do setor aéreo. Mais recentemente, no dia 20/03 foi decretado estado de calamidade pública, situação que permite ampliação do gasto sem desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, dando maior margem de manobra ao Governo e aos Estados. Além disso, o governo anunciou mais R$ 8 bilhões em emendas parlamentares para o setor de saúde.
Por fim, no dia 23/03, em relação a crédito, o BNDES disponibilizou mais R$ 55 bilhões para as médias e pequenas empresas (extensão de linhas de crédito e fornecimento de capital de giro) como forma de evitar um possível colapso desse segmento no país. Vale frisar que a incerteza econômica encarece o crédito de forma elevada, com ênfase para o custo dos menores empresários.
Apesar dos R$ 169,6 bilhões propostos, o impacto fiscal é bem menor, pois muita coisa será revertida ainda esse ano. Em relação ao projeto do governo para manutenção de empregos (flexibilização das regras trabalhistas) as medidas são temporárias e facilitam a negociação para que sejam mantidos empregos. Entre elas, constam: antecipação de férias, férias coletivas, banco de horas, redução proporcional de jornada e salário e incentivo ao teletrabalho.
O teletrabalho, que já vinha sendo adotado em alguns setores, como o mercado financeiro, deve se tornar uma ferramenta que veio para ficar em muitos casos, pois é bem visto para boa parte dos brasileiros e já havia sido regulamentado há dois anos, com a reforma trabalhista. Em 2018, apenas 3,8 milhões de brasileiros trabalhavam em home office, e expectativa é de que esse número aumente bastante. Entretanto, vale frisar que o home office não é capaz de sustentar a economia real, ancorada nos serviços.
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